quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Outra lembrança, novos planos



Outra lembrança a sua disposição,
Eu tenho planos muitos e dinheiro nada
E um sonho que não tem preço
E um avesso e um começo,
Recomeço peça vigésima vez.
E agora nada vai me atrapalhar,
Nem seu ponto de partida
Nem seu ponto final,
Nem meu estado terminal
Depois que disse: amiga, acabou.
O que não tem preço, não tem tempo.
Até donzela dá ao vento!
Se eu não te basto não me procure,
Eu quero o mundo, você não sabe...
Você não cabe porque pensa pequeno.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Inútil




Quanto amargor!
Que toque áspero,
Que mão inútil
Que você tem.
Dobrado, quadrado,
Não perca tempo
Sou seu avesso,
Sou ao contrário,
Sou sem querer.
E que propósito
É esse heim?
Você esnoba,
Você humilha e maltrata,
Que língua inútil,
Que ser inútil
Que você é.
Se nunca beija,
Se nunca ama de graça
Que graça tem?
Quanto azedume,
Que limão verde,
Que toco podre,
Que corpo inútil
Que você tem,
Que ser inútil
Que você é.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A tardinha II


Enquanto o sol ia pra casa
Eu me banhava de saudades
Ao vê-lo cordial e sereno,
Desejando-o sabendo impossível
Ser nosso caso de amor.
Me escondia ao olhar
A linha do horizonte aparecer
Feito navalha, feito o fio
Do teu cabelo que eu amei
E que surgiu para separar
Dentro de mim o dia da noite.
Nos meus olhos se registrava
O mundo e sua maior beleza,
Minha cabeça só lembrava
Que sempre que o sol caía
Você chegava sorrindo linda,
Queria dormir lá em casa.
E agora eu sou o homem
A contemplar beleza inédita
Chorando nostalgia desnecessária.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Abóbora


Quando você descobre coisas sem querer



E se reveste de um pensar sem importância
Em busca de saciar o quê?
Pra que reinventar antigas modas?
Não me atrapalhe, não me enlouqueça,
Cabeça louca, onde eu estava
Que você fez isso tudo comigo e eu não vi.
Quando coisas absurdas parecem fáceis
E o mundo inteiro parece não te caber mais,
Você grita e chora em vão
Você suplica a alguém “Por favor, não!”
E mesmo assim o pior acontece...
Ando senil, rua vulgar,
Musicas tristes tocam de noite ate de manhã
E amanhã o que acontecerá?
Onde estava minha arma
Quando você mais uma vez entrou aqui?
Não me arrebente, não me apodreça,
Depois de tudo, do corpo mudo,
Dos atos falhos e das mentiras,
Fada madrinha não tem pra mim
Foi apenas a meia noite eterna... abóbora.


sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Prima Vera






Prima Vera desabrochou cedo,
Violetas e margaridas
Para meu grande amor,
Eu cometi o crime
De amar uma estação do ano
E dentro dela uma ‘criança’.
Era inverno, ela menina,
Pela primeira vez prima Vera
Apareceu na minha casa:
A maldade dos trinta
No corpo dos dezesseis,
Hoje eu sei, foi de propósito.
Eu também era menino,
Eu só tinha quinze anos,
Era inocente,
Prima Vera Capitulina
Escondia desejo e segredo,
Hora era flores dançando,
Hora fumaça caindo.
Aquele inverno foi quente
Até o dia dela partir,
Foi sorrindo e cantando,
Eu chorando e odiando.
Nunca mais ela voltou
Mora em lugar distante,
Soube que se casou,
Já se passaram muitos anos.
Ainda tinha esperanças
Revê-la noutro inverno...
Adeus prima Vera, adeus.

domingo, 14 de outubro de 2012

Verão



Verão quente e seco,
O vento arranca pedaços
De juventude
Nos rostos das mocinhas
E o sol ri tirano.
Parece alegre, mas não é,
É delirante e alucinógeno,
É um espaço enorme
De purgatório
E quem se converteu?
Dêem ácido aos pecadores
Os banhe com óleo
E os jogue no caldeirão.
Dias com gosto de terra,
E as noites cheiram
A galho seco e formiga.
Quando penso ser
O fim do mundo,
Lembro que só verão.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Sonho






Qual seu sonho garotinha?
Ter um homem rico,
Navegar na “grande linha”,
Ser Miss Universo,
Uma cientista nuclear,
Crescer e ser a melhor,
Se livrar do vício do pó,
Virar homem...
Ser super modelo famosa,
Ganhar medalha me menção honrosa
Por servir o país,
Ser o que seu pai quis
E se formar em medicina,
Ou quem sabe bailarina,
Atriz pornô ou só atriz?
O grande sonho de ser feliz,
De ter amigos de verdade,
Uma casa na cidade,
Uma Mercedes Benz,
O vestido mais caro do mundo,
Viver ‘a dama e o vagabundo’,
Ter de volta aquela mulher.
Tornar-se uma escritora,
Ser hippie e conhecer o mundo,
Enfiar a faca bem fundo
Naquele peito sem amor...

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Monstro



Como uma pena que flutua
Sem pressa ou qualquer compromisso
Ouço canções de doces crianças
Bem diferentes da que eu fui um dia.
No perfume que o vento me trás
Sinto alguns sorrisos e outras lágrimas,
Toda essa carícia por entre os cabelos,
Vigiando nuvens, sinto-as travesseiros,
Rodo em torno do meu eixo. É assim.
Solitário de um carinho materno
Deslizo largo no espaço aberto,
Eu sou um aborto que não triunfou,
Guardo em mim a marca que não apagou
E com tanto peso sobre os ombros
Danço um balé sobre tais escombros
Por motivos tortos ainda sei sorrir!
Compadecido da própria piedade
A verdade é a dura, navalha afiada,
Mas eu guardo em mim o que é monstro
E mostro o sonho de um quase amor.

domingo, 23 de setembro de 2012

Amor de beco





Nesse beco escuro e sujo
É que eu vou concretizar meu amor
Entre o cheiro de urina e os ratos
É que eu vou conhecê-la melhor.
Antes preciso embreagá-la
Para que aceite meu convite
Ou ao menos que vá comigo sem gritar,
O diabo vai nos filmar
E os mendigos vão aplaudir,
Talvez um viciado queira alguma moeda
E uma prostituta queira
Entrar na brincadeira,
Esse beco podre e esquecido
Será nosso ninho
E o que é instinto vai acontecer.
Palavras bonitas não combinariam
Com o urbano cenário,
Talvez findemos num estupro
E em seguida num assassinato,
Tudo simulado claro, pelo álcool!
E que palácio esse o nosso,
Ela me machucará se for com salto alto
Sujará o pé no esgoto.
Com violência rasgando seu sutiã
Me ferve o sangue apenas imaginar
Que por entre o escuro e o sujo
Eu vou arrastar teu corpo
E enquanto tua boca murmura um ‘não’
Eu vou te mostrar um beco.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Um pedido formal de desculpas




Não é por nada, não foi por mal,
Mas se eu disser que foi sem querer
É como se quisesse me isentar da culpa
Que eu nem sei se é de fato minha
Mas a assumo de bom grado.
Não se vive só de agrados.
Não foi de caso pensado
Creio até que não pensei em nada
Quando o furacão estava se formando
Eu estava sentada no chão da sala
Comendo biscoitos, vendo Tv.
E quando tudo estava pronto
E o mundo inteiro estava contra mim
Foi isso o que eu consegui. Desculpe-me.
Foi num susto, um impulso,
Era preciso se tomar alguma decisão
E é impossível evitar que a chuva
Respingue em quem está na rua.
Então agora o que resta é paciência
Toda essa pressa nos trouxe até
Um nível de demência inimaginável
Eu acreditei que estava acordado
Enquanto meus próprios sonhos me enganavam.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Rock




É o som do beijo no escuro
É o amasso quente no pé do muro
A mão debaixo da saia,
A língua em outra boca,
A coxa roça na coxa é um rock.
É um suspiro é um gemido,
É a mordida na orelha,
É o som do zíper abrindo,
É o nó nos cabelos dela,
É a perna entre duas pernas,
O lábio tremulo e violento,
É um forte movimento, é um rock.
É a mão ordenhando os seios
Entre um ranger de dentes,
É o arrepio dos pelos,
É a marca de unhas nas costas,
É fazer como ela gosta,
É o calor que sobe no umbigo,
É um brusco carinho louco,
É algo mais e mais um pouco,
É o subir, o reagir, o ir e vir, é um rock.

domingo, 26 de agosto de 2012

Papel e tinta




No papel em branco e seu corte
Trajado de noiva e viúva
Ao som do velho brega
Bebendo junto aos amigos
Que de imediato não conheço
Me reconheço tão velho...
Descrevendo sombras e gestos
Num desespero eu quero
Que alguém me escute
Mesmo que nunca possa
Entender das coisas que eu digo
Que é quase tudo o que sinto
O resto vi na Tv.
Por que me acalma o espírito
Me imaginar a te dizer,
A te agredir com doçuras
Palavras poucas, impuras,
No entanto por mim inocentes
Se você as ouve indecentes
Há isso é problema seu.
Na tinta escura emblemática
De símbolos me cubro
Pinturas rupestres em muros
Da infância mal comentada,
A mesma tinta que crava
Na minha pele a horrível marca
De só saber escrever.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Catatonico amor


Então eu amarguei aquele momento
Cada segundo que passava
Um pouco do meu ar sumia e eu morria.
Se arrependimento matasse...
Se arrependimento convertesse e salvasse
Estaríamos no céu agora?
Foi o fogo do amor catatônico,
Explosão que destrói e deixa em pedaços
Incontáveis pedaços de dor e saudade
Você me deixou com vontade de você.
Então eu revejo essa novela na cabeça
Quando fecho os olhos,
Quando tento comer ou dormir...
E agora eu sinto você sugando meu ser
E guardando pra si. Me ajude.
Tenha pena de mim... tenho amor por você
Mas existem coisas que não podem ser
Então eu sinto como se uma flecha
Brincasse no meu peito de ir e vir
Girando e estraçalhando o que ele guarda.
Cada segundo que passava
Era mais uma agonia e eu morria.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Putinha


Que tipo de musica anda ouvindo?
Com que tipo de gente anda saindo
E o que você costuma pedir para beber?
Você é uma putinha triste
Ou a Rainha da noite?
Não tente se por num lugar que não lhe cabe,
Dê dois passos para trás e atire.
Você agüenta a noite toda com esse salto
Ou perderá a pose e vai ficar descalça
Quando aquele cara surgir na pista?
Está com medo? Pegue suas coisas
E volte correndo para a saia da sua mãe.
Não é difícil de entender como funciona
Mas as apostas feitas aqui são muito altas
Esse é um jogo de mentiras e segredos
Então tire esse óculos escuro e blefe comigo.
Você é uma putinha pobre
Ou a Rainha da noite?
As roupas são curtas demais?
E as drogas, estão fazendo seu nariz sangrar?
Se não sabe apertar o gatilho na hora,
Se não agüenta ajoelhar e engolir tudo
O que ainda está fazendo aqui filinha?

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Um corpo




 Você foi meu pai, minha mãe, meu filho,
Meu melhor amigo e minha namorada,
Minha companhia e a causa da solidão.
Você foi o tormento durante o dia
E o amor e a calma durante a noite.
Você foi meu alimento e minha água
Por que me deixou com fome e com sede?
Você foi a loucura e o desespero
O motivo pela qual fugi de casa,
Minhas lembranças e memórias,
Minha alegria infinita e a dor irremediável,
Minha duvida e minha resposta,
Minha liberdade e minha prisão,
Meu cigarro, minha garrafa de rum.
Você foi a história de amor que eu tive
Aquela na qual nunca aconteceu,
Você foi a mentira que acreditei,
O dinheiro que gastei, minha ilusão,
A maior decepção que tive na vida.
Hoje você é um corpo sobre a mesa.

domingo, 29 de julho de 2012

Cultura da felicidade




Quando a “cultura da felicidade”
Foi propagada
E a TV e o governo e meus amigos
Exigiam que eu estivesse sorrindo
Dei conta que estava estagnada
Dormindo no ônibus
Que me leva do trabalho para casa.
Dentro de mim eu me convencia
Que sempre estaria bem
Apesar de tudo,
Que nada do que passava no mundo
Me afetava e que as respostas
Estavam no pó e no álcool.
Eu vivia enganada
Pela fumaça alucinógena das fabricas,
Pelo hipnótico barulho dos relógios,
Pela alegria das musicas
Que não nos dizem nada,
Por um horário eleitoral ‘gratuito’.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Medusa





Alcoolizada Medusa,
Me seduza com teu olhar de botequim.
Hoje eu quero sair sem medo
Acender meu cigarro e sentar num banco de praça,
Rever velhos amigos e beber.
Depois quero te ver e beber mais,
Virar pedra, pra poder te amar,
Até não agüentarmos mais.
Engolir sua boca e seus seios,
Amor sem compromisso e sem receio
É assim que eu quero você pra mim.
Bêbada e louca, dançando nua a dança do amor.
Alcoolizada Medusa,
Me seduza com teu amor infame,
Cheio de desejos e maldições,
Hoje eu não quero ter que rezar
Eu só quero beber, fumar e fazer amor com você.

Usado impossível


Hoje eu te reclamo atenção,
Você fingiu não me ver,
Você se aquece em meus braços
Depois diz que somos amigos
Para aqueles seus amigos
Que a noite também te aquecem.
Você foi sorrir naquela festa
E eu fiquei em casa sozinho,
Se meu telefone tocar
É que você não arrumou nada melhor.
Nessa noite eu te apedrejo,
Te cuspo a cara, te odeio,
Choro com mais ódio que medo,
Te enforco em sonhos
Com meus cadarços brancos,
Te esmago o crânio e gargalho
Enfio o gargalo na tua garganta.
Hoje eu te chamo covarde
Víbora devoradora de almas
Enquanto te chamam gostosa,
Por ai você se mostra fácil
Para mim é usado impossível,
Todos te têm a carne na cama,
Mas quem a tem de verdade?

sábado, 21 de julho de 2012

Rafaela


Rafaela, amarela essa cara
Ninguém é feliz de verdade,
Não dá pra fingir o tempo todo
Que os homens que te amam
Não são os mesmos que te agridem,
Que os homens que te odeiam
Não são os que um dia te amaram.
Rafaela, não precisa ter vergonha
Grandes mulheres também sentem medo,
Toda garota odeia um pouco o espelho,
Existe sempre aquele dia desconfortável.
Você podia calar a boca e ouvir
Nem todo mundo quer te agredir,
Você vai encontrar alguém legal
Se sair deste carnaval de tristeza,
Por quem sabe uma roupa descente
E não transar no primeiro encontro.
Você gosta de aventuras,
Mas espera por um príncipe encantado,
Rafaela teu batom encarnado
Te faz confundir com prostitutas,
Você devia ter mais cuidado
Para não iludir mais um coitado
E nem por mais um filho no mundo.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Mal Amada







Agonizava delirante
Com o leite que lhe banhara a cara
Então ele se virou
E o que era convulsão
Não era mais nem espasmo
E todo aquele sangue que fervia
Congelou de imediato.
De fato. Foi uma decepção.
As pernas agora
Tremiam de ódio, e os olhos
Enforcavam aquele que a deixara
Num momento delicado, onde
Um estado físico interessante foi interrompido
Bruscamente antes de ter terminado.
Ele estava satisfeito e dormindo.
Ela estava colericamente acordada.
Ate tentou continuar sozinha
Mas se sentiu ainda mais humilhada
No triste papel de namorada.
Foi até a cozinha buscar uma faca,
Passou seu estado civil para viúva
Assim não se sentiu tão mal amada.
Não, ela não o matou,
Apenas cortou e cozinhou
Aquilo que a decepcionara.