terça-feira, 30 de outubro de 2012

Abóbora


Quando você descobre coisas sem querer



E se reveste de um pensar sem importância
Em busca de saciar o quê?
Pra que reinventar antigas modas?
Não me atrapalhe, não me enlouqueça,
Cabeça louca, onde eu estava
Que você fez isso tudo comigo e eu não vi.
Quando coisas absurdas parecem fáceis
E o mundo inteiro parece não te caber mais,
Você grita e chora em vão
Você suplica a alguém “Por favor, não!”
E mesmo assim o pior acontece...
Ando senil, rua vulgar,
Musicas tristes tocam de noite ate de manhã
E amanhã o que acontecerá?
Onde estava minha arma
Quando você mais uma vez entrou aqui?
Não me arrebente, não me apodreça,
Depois de tudo, do corpo mudo,
Dos atos falhos e das mentiras,
Fada madrinha não tem pra mim
Foi apenas a meia noite eterna... abóbora.


sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Prima Vera






Prima Vera desabrochou cedo,
Violetas e margaridas
Para meu grande amor,
Eu cometi o crime
De amar uma estação do ano
E dentro dela uma ‘criança’.
Era inverno, ela menina,
Pela primeira vez prima Vera
Apareceu na minha casa:
A maldade dos trinta
No corpo dos dezesseis,
Hoje eu sei, foi de propósito.
Eu também era menino,
Eu só tinha quinze anos,
Era inocente,
Prima Vera Capitulina
Escondia desejo e segredo,
Hora era flores dançando,
Hora fumaça caindo.
Aquele inverno foi quente
Até o dia dela partir,
Foi sorrindo e cantando,
Eu chorando e odiando.
Nunca mais ela voltou
Mora em lugar distante,
Soube que se casou,
Já se passaram muitos anos.
Ainda tinha esperanças
Revê-la noutro inverno...
Adeus prima Vera, adeus.

domingo, 14 de outubro de 2012

Verão



Verão quente e seco,
O vento arranca pedaços
De juventude
Nos rostos das mocinhas
E o sol ri tirano.
Parece alegre, mas não é,
É delirante e alucinógeno,
É um espaço enorme
De purgatório
E quem se converteu?
Dêem ácido aos pecadores
Os banhe com óleo
E os jogue no caldeirão.
Dias com gosto de terra,
E as noites cheiram
A galho seco e formiga.
Quando penso ser
O fim do mundo,
Lembro que só verão.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Sonho






Qual seu sonho garotinha?
Ter um homem rico,
Navegar na “grande linha”,
Ser Miss Universo,
Uma cientista nuclear,
Crescer e ser a melhor,
Se livrar do vício do pó,
Virar homem...
Ser super modelo famosa,
Ganhar medalha me menção honrosa
Por servir o país,
Ser o que seu pai quis
E se formar em medicina,
Ou quem sabe bailarina,
Atriz pornô ou só atriz?
O grande sonho de ser feliz,
De ter amigos de verdade,
Uma casa na cidade,
Uma Mercedes Benz,
O vestido mais caro do mundo,
Viver ‘a dama e o vagabundo’,
Ter de volta aquela mulher.
Tornar-se uma escritora,
Ser hippie e conhecer o mundo,
Enfiar a faca bem fundo
Naquele peito sem amor...

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Monstro



Como uma pena que flutua
Sem pressa ou qualquer compromisso
Ouço canções de doces crianças
Bem diferentes da que eu fui um dia.
No perfume que o vento me trás
Sinto alguns sorrisos e outras lágrimas,
Toda essa carícia por entre os cabelos,
Vigiando nuvens, sinto-as travesseiros,
Rodo em torno do meu eixo. É assim.
Solitário de um carinho materno
Deslizo largo no espaço aberto,
Eu sou um aborto que não triunfou,
Guardo em mim a marca que não apagou
E com tanto peso sobre os ombros
Danço um balé sobre tais escombros
Por motivos tortos ainda sei sorrir!
Compadecido da própria piedade
A verdade é a dura, navalha afiada,
Mas eu guardo em mim o que é monstro
E mostro o sonho de um quase amor.