domingo, 29 de julho de 2012

Cultura da felicidade




Quando a “cultura da felicidade”
Foi propagada
E a TV e o governo e meus amigos
Exigiam que eu estivesse sorrindo
Dei conta que estava estagnada
Dormindo no ônibus
Que me leva do trabalho para casa.
Dentro de mim eu me convencia
Que sempre estaria bem
Apesar de tudo,
Que nada do que passava no mundo
Me afetava e que as respostas
Estavam no pó e no álcool.
Eu vivia enganada
Pela fumaça alucinógena das fabricas,
Pelo hipnótico barulho dos relógios,
Pela alegria das musicas
Que não nos dizem nada,
Por um horário eleitoral ‘gratuito’.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Medusa





Alcoolizada Medusa,
Me seduza com teu olhar de botequim.
Hoje eu quero sair sem medo
Acender meu cigarro e sentar num banco de praça,
Rever velhos amigos e beber.
Depois quero te ver e beber mais,
Virar pedra, pra poder te amar,
Até não agüentarmos mais.
Engolir sua boca e seus seios,
Amor sem compromisso e sem receio
É assim que eu quero você pra mim.
Bêbada e louca, dançando nua a dança do amor.
Alcoolizada Medusa,
Me seduza com teu amor infame,
Cheio de desejos e maldições,
Hoje eu não quero ter que rezar
Eu só quero beber, fumar e fazer amor com você.

Usado impossível


Hoje eu te reclamo atenção,
Você fingiu não me ver,
Você se aquece em meus braços
Depois diz que somos amigos
Para aqueles seus amigos
Que a noite também te aquecem.
Você foi sorrir naquela festa
E eu fiquei em casa sozinho,
Se meu telefone tocar
É que você não arrumou nada melhor.
Nessa noite eu te apedrejo,
Te cuspo a cara, te odeio,
Choro com mais ódio que medo,
Te enforco em sonhos
Com meus cadarços brancos,
Te esmago o crânio e gargalho
Enfio o gargalo na tua garganta.
Hoje eu te chamo covarde
Víbora devoradora de almas
Enquanto te chamam gostosa,
Por ai você se mostra fácil
Para mim é usado impossível,
Todos te têm a carne na cama,
Mas quem a tem de verdade?

sábado, 21 de julho de 2012

Rafaela


Rafaela, amarela essa cara
Ninguém é feliz de verdade,
Não dá pra fingir o tempo todo
Que os homens que te amam
Não são os mesmos que te agridem,
Que os homens que te odeiam
Não são os que um dia te amaram.
Rafaela, não precisa ter vergonha
Grandes mulheres também sentem medo,
Toda garota odeia um pouco o espelho,
Existe sempre aquele dia desconfortável.
Você podia calar a boca e ouvir
Nem todo mundo quer te agredir,
Você vai encontrar alguém legal
Se sair deste carnaval de tristeza,
Por quem sabe uma roupa descente
E não transar no primeiro encontro.
Você gosta de aventuras,
Mas espera por um príncipe encantado,
Rafaela teu batom encarnado
Te faz confundir com prostitutas,
Você devia ter mais cuidado
Para não iludir mais um coitado
E nem por mais um filho no mundo.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Mal Amada







Agonizava delirante
Com o leite que lhe banhara a cara
Então ele se virou
E o que era convulsão
Não era mais nem espasmo
E todo aquele sangue que fervia
Congelou de imediato.
De fato. Foi uma decepção.
As pernas agora
Tremiam de ódio, e os olhos
Enforcavam aquele que a deixara
Num momento delicado, onde
Um estado físico interessante foi interrompido
Bruscamente antes de ter terminado.
Ele estava satisfeito e dormindo.
Ela estava colericamente acordada.
Ate tentou continuar sozinha
Mas se sentiu ainda mais humilhada
No triste papel de namorada.
Foi até a cozinha buscar uma faca,
Passou seu estado civil para viúva
Assim não se sentiu tão mal amada.
Não, ela não o matou,
Apenas cortou e cozinhou
Aquilo que a decepcionara.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Boneca Inflável


Fim de tarde e de carreira
Rumo ao México ou ao bar mais próximo.
Uma dose, um cigarro, outra dose
E aquela perca de tempo e de nome.
Tristeza era tão banal que não doida
Anestesia, eu evitava olhar pro céu,
Não podia correr o risco de sonhar.
Sem orações, sem patrões, sem pressa
Por que nada faz diferença
Quando você está sozinho e não vai
Fazer nada por si mesmo. Nem morrer.
Todas as pessoas não são nada
Eu ia ao encontro do arraso
Perdido no tempo-espaço. Ferido. Despedaçado.
Ciente de que era vergonhoso e triste
Estar sempre vivendo o constrangedor momento
De acordar e estar sozinho mesmo quando
Ela estava ao meu lado. Minha boneca inflável.
Me ajudando em alguns momentos
Mas não podia me fazer feliz com aqueles
Terríveis e detestáveis defeitos:
Olhos piscando, pulmões respirando,
Boca falando e coração batendo.

terça-feira, 10 de julho de 2012




"Deixem-nos morrer jovens ou deixem-nos viver eternamente.
Nós não temos o poder, mas nunca dizemos "nunca".
Sentando num fosso de areia, a vida é uma viagem curta.
A música é para os homens tristes..."
 
              (trecho traduzido Forever Young - Alphaville)


Nossa vitrine está mal vista,
Alguém andou espalhando que aquele cigarro
Não vende livremente no mercado...
Alguém deixou escapar
Que agente bebe até vomitar. Calunia!
Nossas roupas estão sujas
Por que preferimos sentar no chão,
E não no colo dos nossos pais,
E nem na rede do nosso país.
Estão falando mal de nós por ai
E acham que vamos nos importar,
Que vamos mudar a conduta
E deixar de ser livre pra ser produto enlatado.
Nós não temos tempo, nós temos fome,
Queremos uma liberdade que não é vista
Mas é sentida em toda a carne.
Sem juros, nem faturas ou pactos,
Todo mundo precisa de muitas coisas
Nós só precisamos viver.



sábado, 7 de julho de 2012


Band-aid



Era desolador ver que tudo o que tinha
De repente não significava nada
Diante de um ser tão cruel.
Ela era magra e grosseira,
Com os cabelos emaranhados
Que prendiam meus pulsos
E assim eu me sentia tão bem.
Era um prazer tão incrível e barato
Que eu acreditei que era eu
Quem não valia nada.
Era como se um band-aid
Curasse todos os machucados.
A convidei pra comer caviar,
Mas ela pediu uma torta de frango.
As pessoas estranharam       
Um homem rico e bonito
Que sempre andou sozinho
Que rejeitou as mais lindas mulheres
Andar por ai fazendo os caprichos
De uma prostituta feia, pobre a barata.
Mas era só ela que eu queria
E quis até o dia em que ela parecia calma
Eu não desconfiei, queria tê-la,
Mas com um golpe por trás da cabeça
Me acertou e em seguida
Partiu meu corpo em pedaços
E os pôs nas caixas dos meus sapatos
E foi embora sem levar nada
Nenhum centavo.

Pessego em Calda


Agora pouco eu caminhava
Descalço em cacos de vidro
Amargurado e cínico
Sorrindo para as pessoas “bom dia”,
Um “bom” que não existia
Estava preso em um estado
Em que a dor parecia eterna.
Foi quando ela atravessou-me
Com a boca entre-aberta,
Os olhos de pêssego em calda
Derramavam algo que era meu,
Mas eu não sabia
Eu bem tentei frear a tempo,
Mas não mudei de sentido.
Queria ir ao seu encontro.
De forma não tão brusca,
Mas eu queria bastante.
Quando desci do carro
Ainda não estava morta,
Me olhou aliviada e quase
Pude ver um sorriso.
Baixinho ela me disse:
“Amigo, muito obrigada.”
E fechou os olhos com alívio.