segunda-feira, 9 de maio de 2011

Querida


Querida

Querida manhã, bom dia,
O sol não ardia
Como a pimenta
Da noite passada,
De qualquer forma
Minha cama ainda está quente.
O vento não penetrou a janela,
Outra coisa penetrou naquele quarto.
Sufocantemente ardente
O suor grudou
E impregnou nos lençóis,
Foi um movimento frenético
E varias posições,
Foi a mão e a boca
E outras partes do corpo.
A noite não foi de sono
Tão pouco tranqüila,
Foi a noite perfeita.
Ela não era ninguém.


Farelos

Me escolhe em flagelos
Eleite-me sua rainha
Com os trapos que visto,
No chão onde eu durmo,
Não tenha receio.
Me ame bastarda
Sou mãe de outro filho,
Devore da minha boca,
Me queira em avesso
São muros e balas.
Me estraçalhe os cabelos,
Há dias não durmo
Sou desesperada
Estou como sou e peço
Não sinta remorsos,
Não sou senhorita.
Minha casa é a rua
Tua casa é meu corpo,
Doutor me ajude
Não finge que dorme
Sei que não tem escrúpulos.
Porta-estandarte
Já embelezei teus desejos,
Se hoje há farelos
É porque houve refeição.

Um comentário:

  1. Não sei se me soa somente a mim desse jeito, mas temo acreditar que os dois são polos de um só corpo, de um só peito, de um só... Mentira, porque um só não dá pra produzir isso tudo, são dois que são um só, mas "uns sós" diferentes entre si, um passivo, um ativo... Um de migalhas, o outro de feitiço... Guarda em mim a sensação exata, não humana, de que são sentimentos de "chegar em casa e começar a briga", dois cachorros sarnentos se roendo, se mordendo, depois se enfeitando, se construindo, se manifestando...

    E há uma linha que os mantém ali, mesmo nos dias que são restos e nos dias que são elogios, querida farelo.

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